segunda-feira, julho 18, 2005

SEM TÍTULO

as duas cartas que eu escrevi sobre a minha filha:

há pouco mais de 1 mês

Amigos,

há muito que eu não escrevo para ninguém, na verdade eu jamais escrevo pra alguém. Acho que nesses anos todos se escrevi 3 email´s para vocês será um exagero. Mas enfim.. como a palavra de ordem é mudança, novidade e virada de mesa (como citou naty em seu post) eu me sinto na obrigação, satisfação e extrema felicidade em dizer a vocês que eu vou ser pai.
Isso meus queridos, a ficha ainda não caiu aqui comigo também não mas eu tenho plena convicção que estou feliz, mesmo não estando casado nem ao menos namorando com a mãe. Nos damos muito bem, somos ótimos amigos, a familia dela é ótima, os meus pais estão vibrando, tatá está com ciúme e lala toda toda só porque vai ser tia.
Mas uma coisa é fato: eu não poderia deixá-los à revelia de uma noticia tão fantástica como essa. Eu gostaria que o mundo fosse perfeito e que não houvesse gente fofoqueira mas como ainda não chegamos a esse estágio eu achei arriscado demais esperar até o meio de julho pra contar-lhe pessoalmente, ao redor de uma mesa de chopp. Temi que vocês ficassem sabendo por outras bocas e isso sim, seria imperdoável.
Quero dividir essa agonia feliz que eu to sentindo aqui dentro... a minha perolazinha se chamará Maria, como eu sempre desejei. Um nome simples, suave, lindo... mas forte como toda Maria.
Estamos com 5 meses (mas só ficamos sabendo há pouco mais de 1mês).
Bom, espero que ninguém tenha desmaiado e que quando eu ai chegar receba um mote de beijo e abraço pois eu sou o mais novo fornecedor da paróquia.

...e viva a continuidade dos dias!!!!


hoje, há pouco menos de 1h

à Maria e às coisas da vida...


eu nem sei por onde começar.. mas sei que não vou rodear muito... estou esgotado.

Maria nasceu no dia 13 de Julho de 2005 às 01:05h, com 6 meses e alguns dias, foi internada em unidade especial para prematuros. Às 3:00h não resistiu.

Não tentem saber como é a dor de saber uma noticia dessas 4 dias depois porque estava ainda viajando à trabalho (estava no avião indo para Natal no momento em que ela nasceu, às pressas no hospital português aqui em são luis), recuperando ainda a ferida recém aberta pela perda de um quase-tio na segunda-feira após um transplante de coração (dureza de vida).

Não tentarei aqui tecer um texto lindo sobre amor, pai, filhos, esperança, espera e dor. O óbvio e a angústia não me permitem.

Desculpas aos meus amigos que falaram comigo ontem (dia do meu aniversário) e eu nada disse sobre isso... eu não sabia como vc´s reagiriam, nem eu.

Estou dizendo agora e de uma vez só, na lata. Pra passar da mesma forma que veio.

Não peçam pra mensurar a confusão cerebral que me acomete, têm sido dias difíceis esses últimos 7.

Denise está bem, o parto foi perfeito. Maria viveu por duas horas. Não sei o que se passou na sua cabecinha, não pude vê-la, nem ao menos soube que nascera. Denise não pode também. O pai dela cuidou de tudo.

Deus assim o quis.
Fui pai ao menos... por 2h e sem saber, mas fui... e isso me modifica? Não sei amigos... mas a perda dói como se eu fosse pai há 18 anos.

Sempre fui fechado, casca grossa, introspectivo... desta vez o corpo chiou (é com CH ou X ?). Passei o meu aniversário (dom 17jul) longe da família, longe dos amigos de recife, com a notícia esmagadora do falecimento da filha que nunca vi, garganta inflamada, dor de cabeça, febre e hoje, asma.

Tenho que buscar o equilíbrio.

Tenho que tentar identificar os pontos de vivificação contidos nessas ultimas trovoadas que a vida reservou para a entrada dos meus 30 anos.

Tenho certeza da dor que muitos de vocês estão sentindo e posso sentir durante toda a semana as preces em favor à Maria de todos vocês que eu sei, me amam. Saibam que eu também os amo e compartilho com vocês esse nobre sentimento de carinho que agora brotam dos seus corações.

Fiquemos em paz.
Minha mente, embora revolta, encontra paz no coração que aguarda sereno o conforto da fé na providência divina.

Beijo a todos.



De certo que eu escreveria muito mais por Maria. De certo que, por Maria, eu passaria a minha vida inteira escrevendo. Mas Deus não quis assim. Talvez ele tivesse ficado com ciumes e fez com que só ele escrevesse a vida dela. Como aliás é a de todos nós. Por ele escrita.

hasta.

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