sexta-feira, julho 06, 2007

“Eu tenho o tempo do mundo, tem um mundo afora.”

É quando a gente começa a fazer as malas e se preparar para mais uma mudança. Inevitavelmente nos esbarramos com coisas que nem sabíamos que tínhamos guardado. Ocorreu-me hoje à noite enquanto encaixotava as coisas do apartamento, partindo para o Recife.

Tenho que explicar do que se tratam as coisas que aqui estão para que todos compreendam o que falo.

Túlio (meu irmão) quando veio morar em Natal, janeiro de 1997, morou no quartel durante um tempo e, assim que conseguiu uns bons amigos para rachar apê partiu para essa aventura que não parou até hoje. Começou dividindo um apê com Jean, Augusto e outro tenente lá do GAC do qual não lembro o nome. O apê ficava em Capim Macio e pouca coisa sobrou desse apê, era apenas o primeiro, não tinha muita coisa mesmo. O segundo, com um novo grupo de amigos (Sandro, Ribeirinho, Erlanzinho e um gaúcho do qual também não lembro o nome). Este segundo ficava em Barro Vermelho. Foi o apê onde eu, joka, Nilson e beta fomos conhecer. Foi neste ape onde Túlio fez uma das festas mais malucas que eu já fui. A turma era animada. O terceiro foi com a mesma turma excetuando-se o gaúcho. Foi o melhor apartamento deles, ficava em Lagoa Nova e foi o que eu mais passei tempo, o ano era 2003, carnatal, pipa, época realmente muito boa em Natal com companheiros de apartamento espetaculares. O quarto foi em Dix-Sept Rosado, novo momento, apenas Túlio e Ribeirinho. Passei uns tempos neste apê também. Foi nele onde me hospedei no momento em que preparava para ir pra São Luis, 2004, portanto. Foi nele onde eu e Sal nos hospedamos antes dela ir pra Espanha. Foi lá onde fiz minha despedida de Natal antes da aventura no Maranhão e desse apartamento de onde vieram todas as mobílias que estão neste que agora eu esvazio. O ultimo apê foi em Dix-Sept Rosado também: Túlio, Ribeirinho e Juan. Foi ai que a historia atual começou a ser configurada. Juan, amigo de infância, que há um tempo estava afastado da gente me comunicou via ligação Natal-São Luis que estava vindo morar em Natal rachando ape com meu irmão. Muito bom, quando vinha visitar os meninos, os 3 de novo juntos. Mas ai veio Fortaleza para mim e tudo mudou no mundo. Ribeirinho casou, foi-se pro Rio e nunca mais ouvi falar dele. Juan arranjou um ape pra morar (este no qual estive até hoje) e Túlio foi-se pra Sampa.

Na pressa de ir para São Paulo, Túlio largou tudo aqui no apê de Juan e partiu. Juan ficou morando aqui neste apê com a mobília de Túlio que foi adquirida no primeiro apê de D.S. Rosado. Depois de sair da Oi e passar pelo meu deserto (vide Carl Gustav Jung e Antoine Exuperry) no Recife há um ano, vim para Natal e fiquei um tempo na casa de Luquinha e Cassimiro, mas 4 meses depois vim dividir o apê com Juan. Juan noivou, foi morar no apê definitivo e então, desde fevereiro que estou aqui sozinho, num ape que era de Juan cheio de mobílias que são de Túlio.

Comecei a encaixotar tudo para, finalmente, dar destino a isso tudo que ainda está aqui, com atraso. Alguns anos de atraso, aliás. Abri uma cerveja, pus um som qualquer no laptop e comecei a revirar as coisas e fui me deparando com objetos que me fizeram viajar no tempo. Engraçado como esses anos todos com o meu irmão morando aqui em Natal e eu em tantos outros lugares se resumem aos poucos momentos que estivemos juntos e me faz concluir que não convivi com o meu irmão nos últimos 10 anos. Perdemos o tempo mais importante entre dois irmãos (dos 20 aos 30) para curtir a vida. Agora tudo é mais importante, menos farra. E reduzo todos esses momentos em cada objeto que vou encontrando pela casa na hora de encaixotar.

Canecas do GAC. Os amigos do quartel dele que passaram a ser meus amigos, a primeira viagem que fizemos para Natal depois que ele veio pra cá pelo EB. Eu, Túlio e Gustavo Sant’Anna (hoje morando em Denver). O dia em que bebemos tudo no Hooter’s e no dia seguinte fui apresentado a uma garrafa de água tônica.

[Bobagens, eu sei. Mas é o que, sinceramente, me ocorre neste momento]

Coisas da mudança que fui descobrindo embaixo da cama, dentro de mochilas há muito não abertas, nas portas dos moveis, guardadas em caixas de papelão há anos intocadas...

Canequinha de metal com a bandeira de Pernambuco que Bruna me deu. Caneca da Pizza Hut comprada em Fortaleza. Maçãs de mentirinha pra enfeitar a mesa do tempo de Lagoa Nova. Cacarecos de Cancun e Cusco da viagem que Carlão, Clênio, Flavio e Túlio fizeram ao Peru. DVD’s que assistíamos sem parar nas manhãs de ressaca com Erlanzinho.

Sei que está ridículo esse post que nem eu estou entendendo direito. Sem coesão (sem pé nem cabeça). Mas enfim... Engraçado mesmo foi quando eu abri uma mala preta, gigante, que estava escondida embaixo da cama. Ao abrir a mala pra ver o que sobreviveria e o que seria doado, comecei a rir. Imaginem vocês que havia roupa de absolutamente todo mundo que passou por essas nossas vidas nesses 10 anos de Natal.

- blusa de ribeirinho que eu usei emprestado no dia que fomos para o Taverna Pub depois de ser recepcionado por duas gatas completamente estranhas e só depois ver Túlio e Lailson, sentados no café do aeroporto e rindo da minha cara de “que porra é essa?”.[2001]
- camisa minha que comprei à Carol, em Fortaleza, quando ela trabalhava numa loja de roupas e enchia a gente de desconto.[2006]
- calça laranja que usei no dia que conheci Remi e Manga, meu atual chefe, no dia que detonamos 3 litros de uísque na casa de Sudário com direito a isca de caranguejo estragada há 3 meses (foi por conta desse dia que André, anos depois me confidenciou ter tido a idéia maluca de me contratar para São Luis).[2003]
- uma das melhores calças M.Office que já tive que virou uma bermuda depois que a empregada de Túlio, a Socooooooro!!! (sim, ela era horrível) queimou enquanto tentava passar.[2004]
- Camisa que Keké me deu de presente (e eu nem lembro mais porque diabos ela me deu de presente).[2003]
- a camisa com a qual na noite em que, pela primeira vez, Oreste me chamou ao palco do downtown para cantar Like a Stone. Nessa noite estavam comigo Juan e Simone Carmo uma grande amiga nossa daqui de Natal.[2003]

E mais uma pá de roupas e peças (blusa do uniforme de Ribeiro, bermuda de Erlan, calça de Juan, um só pé de sapato de Túlio, metade da caneleira de alguém, um cadarço perdido, pares e pares de meia de todo mundo que morou nesses apartamentos um dia, camisa do uniforme de futebol do time de Administração da UFRN, camisa oficial da seleção brasileira com ainda 4 estrelas, blusa do show da Timbalada e Companhia do Calipso do pré-reveillon Marafolia, boné da Ferrari, uniformes e uniformes militares de todos os tipos, tamanhos e donos...

Eu já estava na quinta Kaiser quando comecei a achar que, metaforicamente, essa mala é a minha memória. Se somos a soma das experiências e convivência com todo mundo que cruzou na nossa vida, essa mala sou eu, é Túlio, é um pouco de Juan também. É a síntese desses anos loucos em que vivemos tão longe e tão perto. Vivendo assim, cada um pro seu lado e ao mesmo tempo um puxando o outro. Dividindo desventuras de morar cada um em um lugar do país. Agora eu no Recife, um em Sampa e outro em Natal. Até quando, ninguém sabe.

Vou tratar de esvaziar a mala. Jogar fora a maioria dessas coisas que não fazem parte mais do nosso dia-a-dia. Nova fase.

E, como diria alguém... viva a continuidade dos dias!!!!

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