sexta-feira, setembro 21, 2007

O PODER DAS PALAVRAS NÃO DITAS...(a primeira face da moeda)


Sabe quando você tenta dizer algo e que por inúmeros fatores como: dúvida, receio, timidez e uma série de outros escambais, não o diz e o que sai da boca é aquele silencio que incita a dúvida?
Pois bem, o não dito soa pior que as palavras erradas. Porque palavras erradas podem ser corrigidas, depois. O não dito, por sua vez, não.
Como você pode corrigir uma coisa que você não fez?
Você até consegue facilmente sofrer por uma coisa que não fez, mas aquilo é só seu. Ninguém mais sabe. Claro que você pode tentar recriar o momento, o clima, mas a deixa para dizer, de uma vez por todas, o que deveria ter dito e não o disse é complicado.
É como um passarinho que devia ter cantado ao nascer do sol e, por preguiça, fome, doença ou distração, não o faz.
- Como pode um passarinho não cantar ao nascer do sol? – questionariam alguns. Sabe-se lá que segredos repercutem no coração de um passarinho desavisado. E como há passarinhos desavisados no mundo...
Eu mesmo sou um deles. Há momentos em que não consigo verbalizar o que reverbera numa quase-palavra e a quase-palavra é um crime que cometemos com nós mesmos e, indiretamente, com os que nos rodeiam.
Pode ser agressivo falar sempre o que reverbera por dentro, mas confesso e admito, é muito melhor vomitar o errado que morrer com o certo tolhido.
Portanto falemos, irmãos!
Falemos conquanto correndo o risco de sermos mal interpretados, somente a comunicação nos explica. Só ela nos posiciona no mundo. Só ela nos define. Esperar sermos compreendidos somente por nossos atos é esperar demais dos outros. E há alguns dos quais não se pode esperar nada.
Fale!
Não obstante o fato de sermos cercados por ouvidos melindrosos, a fala é ainda o melhor modo de conseguir a salvação da alma.
Mas cuidado! Faz-se mister respeitar as palavras. Palavras, como costumam dizer, são ferramentas perigosas na mão de incautos. Palavras demais são laminas com dois fios. Faca de dois gumes. Uma palavra errada no momento inadequado fere. E como fere.
O dilema esta entre falar e ser mal compreendido, ainda que seja possível consertar o equivoco noutro momento (ou não, como diria o filho de dona Canô) ou calar-se e esperar que o gênio interlocutor capte a sua intenção.
Há aqueles que preferem o silencio para depois maldizerem o mundo por não serem compreendidos. O que implica em culpar os outros por não os terem acompanhado. Como pode ser possível uma pessoa culpar a outra que não acompanhou um raciocínio que só está dentro da sua própria mente?
Complicadíssimo.
Eu prefiro falar, em especial com quem não tenho tanta intimidade, pois podem assimilar mal o meu silencio.
Mas escolho bem as palavras para não ser traído por elas.
Nem sempre consigo, reconheço. Mas quem me conhece ao menos sabe do meu esforço e quando vejo alguém não se esforçando para alcançar a clareza nos diálogos, ai a coisa complica. É como se estivesse diante de mim alguém que não está nem um pouco preocupado em ser compreendido. Alguém que acha que devíamos ser tão ruins com os vocábulos quanto ele ao ponto de compreender uma frase mal feita, uma palavra mal posta, num texto sem coesão.
Irritante.
Chatice minha? Claro que sim.
E quem disse que é chato ser chato? Chato é ser burro.
A burrice me irrita, mas ao mesmo tempo me encanta. Tenho inveja dos burros. Enquanto muitos se atormentam tentando falar claro o suficiente, os burros levitam despreocupados. A leveza dos burros é impressionante. Eles cavalgam por ai tranquilos, relinchando suas sandices, isentos do efeito malígno que semeiam. Não um efeito maligno assim incisivo, mas um mal suave que vai minando as relações de pouco em pouco, como se a vida mesmo fosse culpada pelos percalços que suas palavras mal postas e frases sem sentido causam nas cabeças daqueles que tentam o compreender. Mas, cá estou eu, assim com o Teles, tergiversando sobre o que eu nem queria.
O silencio. Ah! O silencio.
Linda ferramenta quando se está em comunhão com pessoas inteligentes.
Como isso nem é sempre possível. Fale!
Não deixe pra depois tentar se ver na mesma situação, porque a “deixa” pra dizer o que teria sido dito não ocorre e se ocorrer algo estará mudado. A intensidade não será a mesma. É o momento mágico da palavra perfeita. Uma palavra bem dita, no momento adequado, no timbre correto vale mais do que... do que... do que tudo o que vocês quiserem apostar. É a mágica do momento.
Uma palavra bem dita abre portas, o céu se ilumina, o tempo move-se lento, os cheiros ficam mais fortes, os sons mais puros, as nuvens correm, a chuva pára. Tudo fica mais claro. É uma passagem.
É a chave da palavra bem dita (ou bendita, como queiram) esfacelando o poder da palavra não dita.

hasta.

Nenhum comentário :