terça-feira, dezembro 21, 2004

considerações sobre saudade...

Adorei receber o disco novo do U2 por correio (valeu Dea). Lembrei do corre-corre que foi comprar o Pop Mart de madrugada, lançamento mundial às 00h, coisa de Bono. E depois conferir o som ao vivo, no Rio.
Impagável.
Estou, como sempre, ouvindo com calma. Pra perceber as nuances sempre escondidas nas canções do U2. Às vezes eu tenho a impressão que eu não vou gostar de determinada música e logo em seguida começo a perceber detalhes melódicos que só os caras mesmo pra criar.
Mas... como tudo na vida dos sub-desenvolvidos existe um "mas..." (como diria Arnaldo Jabor)o CD que está me deixando bobo e tirando minha atenção do How to dismantle an atomic bomb chama-se Meio-Dia na Rua da Harmonia.
Título simplesmente perfeito (valeu Cahita).
Rua da Harmonia, pra quem não é de Recife (ou nunca foi lá) é uma rua no bairro de Casa Amarela ( ...ou tamarineira, ou casa forte, tanto faz). O bairro de casa forte, tamarineira, graças, aflitos, casa amarela tem muito disso, dessa calma, dessa pureza das árvores que sombreiam as ruas, das pessoas educadas que passeiam nas praças e calçadas, bebericam nos cafés e nos bares espalhados no meios das casas desses bairros irmãos. Morro de saudade da sombra que fazia ali na rua Abelardo onde morei por 6 meses. Do cheiro do verde nas tardes mansa quando eu ia ler Gabriel Garcia Márquez no Parque da Jaqueira. Da imagem belíssima que as copas das árvores formavam reverenciando a grandeza da Rua Amélia quando bate o sol às três da tarde. Aquele túnel verde.
A inocência nostálgica das ruelas de Casa Amarela. O aconchego de andar devagarzinho, com a mão no bolso entre as ruas da Estrada das Ibáias. O gostinho bom do vento que batia no meu rosto quando voltava correndo do treinamento físico militar durante quase 10 anos no CPOR, no final da tarde, no asfalto irregular da rua Olegarina (aquela que parte na praça do CPOR e leva até o Parque Sant´Anna). Tomar uma no Emprensadinha (ali ao lado da Matrix de Casa Forte), comer torta de maracujá com coca-cola no café Burle Max na Praça de Casa Forte e respirar o ar puro daquelas plantas espetaculares e chegar, subir em direção ao Guaiamum Gigante, largas ruas aconchegantes, fazer a volta no girador na estrada do encanamento, passar em frente à praça de Parnamirim onde os meninos se banham na fonte lavando os carros com água suja dos seus corpos, dar a volta em frente ao McBode, Fiteiro, subir a estrada do Arraial onde a História do Brasil trasnborda e chegar, finalmente, na rua da Harmonia.
Lindo nome. Lindo nome. Disco perfeito.
Os meninos se superaram, ainda não é hoje que eu vou tecer registros sobre as impressões musicais. Ainda estou escutando muito, a todo tempo. Não demora muito e os ludovicences estarão viciados no som do Parafusa.
Espero ter um tempo de visitar todos esses lugares que me deixam com o pensamento flutuando quando estiver ai em Recife. Quero muito voltar, passar uns dias de bobeira com meus pais, tomar umas cervejinhas com os amigos, passear pelas ruas de recife, pelas ruas que me emocionam. De referência à tarde e durante a noite. Lembro que (sem nunca imaginar que um dia não teria mais possibilidade de faze-lo) diminuia a velocidade do carro sempre que estava voltando pra casa ao passar, com o dia nascendo, pela ponte do Bacardi (ali no Pina) seguindo pra minha casa, depois da balada....o céu lindo, o sol surgindo... eu diminuía, as vezes parava, tirava foto...e voltava bobo, com sorriso no canto da boca, orgulhoso de morar numa das cidades mais loucas, deficitárias, emocionantes, violentas, apaixonantes do mundo.
As luzes que anunciam a extensão do Cais José Estelita, o reflexo dos postes e dos sobrados magros da Rua da Aurora ao longo do Rio Capibaribe quando passava pela ponte da Votorantim indo pro Downtown, a imagem surreal do canal visto pelo lado de dentro, sentado ali na sacada do Capibar.
Isso é um pouco de Recife. Recife onde deixei um pouco de mim e que eu trago um muito aqui dentro do coração.
É quando eu escuto o som dos meninos e lembro dos barzinhos onde a gente escuta gente boa tocando o próprio som, lutando por um espaço no mercado. Fazendo o que gosta, tocando pra quem quer ouvir. Na cidade mais musical e cultural do planeta.


"Esta cidade parece um poema, em cada esquina você pode estar.”
Meio-dia na Rua da Harmonia.
Boa sorte a todos.

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