segunda-feira, abril 25, 2005

juntando os pedaços

...assisti hoje o Efeito Brabuleta. Sim, acho que eu sou o último ser humano a vê-lo. Todo mundo me recomendava e eu deixava pra depois - filme de drama com ashton, bah!

Bom, rasguei a boca, né? O filme é muito legal, interessante. (os diretores até disponibilizam 3 versões para o final - gente boa esse pessoal, né?)

Só esqueceram de mencionar que ninguém volta pra agir diferente. O jeito é cuidar pra que os nossos passos sejam os mais corretos possíveis. Isso é bem improvável de acontecer sempre, mas o simples fato de estarmos alerta nos torna um pouco melhores.

E eu, que fiquei tão intrigado com esse título e a explicação do Efeito Borboleta concatenado à Teoria do Caos.. lembre que li, há muito, uma materia na Superinteressante (há muito tempo meeeesmo) sobre o caos e a ordem que há nele. Sim!!! Há uma ordem magnífica no caos que gera tudo o que existe e que ainda vai existir. A natureza é explêndida e nos prova, todo dia, que a sua linha mestra é o caos. E dá tudo certo. Porque o caos é a vida, as pessoas são caos, uma pequena ação de agora vai refletir em sequelas positivas ou negativas (isso eh discutir valores - não vem ao caso) mais adiante. É o efeito. Instigante observação.

"Só estarei aqui uma única vez. Então que seja perfeita." Li isso (ou algo muito próximo) num livro. Achei espetacular. A palavra "aqui" não significa, necessariamente, o planeta terra, ou a existência (não quero entrar em meandros religiosos). Sejamos mais simples. Entendo o termo "aqui" como esse momento em que teclo, amanhã quando estiver no escritório, no almoço, ao encontrar um amigo no shopping, na praia, no trânsito, ao conversar com alguém, ao visitar algum cliente ou parceiro... pedaços pequenos mas que, somados, são realmente as nossas vidas. Que seja então perfeito (ou o mais próximo disso).

Matutando sobre tudo isso que eu vi no filme, que eu ouvi nos comentários dos "extras" do dvd, no livro que li (sobre relacionamento interpessoal - nada a ver com caos ou hollywood), comecei a embaralhar tudo com as idéias de Clarice Lispector na introdução do livro que nunca li (nunca cheguei a ler o livro mas a introdução, de tão fantástica, li 13 vezes): Um sopro de vida. É enlouquecedor quando você lê Clarice escrevendo que o tempo não existe.
PORRA!!!
Aquilo foi um pontapé na minha lógica de bosta. Destruiu a escada, plasmada há tantos anos no meu cérebro, sobre tempo, horas, dias, calendário, agenda, compromisso, lembranças, memórias, planos... putz. Foi quando parei e pensei: O que é o tempo?
Lembrei da minha doce amiga Luciana (e amiga de Layne também). Ela adorava quando eu bebia lá no clubinho, enchia a lata e começava a tergiversar sobre o mundo. "O tempo, os dias e as horas são meras convenções que o mundo criou para seu próprio tolhimento". Ela morria de rir com essas tiradas etílicas.

Clarice tinha razão - o tempo não existe. Então passado e presente se confundem, se fundem e são uma só coisa, ao mesmo tempo. O futuro, esse não existe. Porque não há continuidade.
O tempo, segundo ela, é só a maneira de explicarmos e determinarmos o fato das coisas apodrecerem. Argh! Meio tosco, mas real e dolorido que só um soco na boca do estômago.

É como se, mais ou menos, o dia fosse um só.
O único dia de nossas vidas (o meu dia, por exemplo, já dura quase 30 anos).. entremeados de encontros, desencontros, amores, desamores, viagens, chegadas, topadas, sorrisos, algumas perdas, sol, lua.. mas isso é, inclusive, mero detalhe técnico da mecânica celeste.

O tempo em si não é validado porque a lua sobe e o sol some... ou porque a porra do ponteiro do meu relógio está rodando... o tempo é a marca no meu rosto que antes eu não tinha, é a pele gasta, é a voz modificada, é me interessar por outras coisas pelas quais não me interessava e, de repente, começo a me parecer agradáveis, é a minha idéia sobre mim mesmo e sobre o mundo diferente do que eu pensava algumas muitas voltas antes do mesmo ponteiro, é a casca da banana que escurece aos poucos ao passar das luas... mas o tempo, esse não existe.

Loucura total. Puta que o pariu eu já fico com dor de cabeça quando começo a pensar, sorrindo, nessas maluquices tão gostosas.

É pensar que o tempo, esse caboclo contado por números (segundos, horas, dias, anos, etc) existisse realmente só porque assim o inventamos. O homem da caverna não tinha noção de tempo e vivia regulando tudo através das luas, quantidade de luas.. mas para ele aquilo era contemporâneo. O mesmo dia, as vezes claro, as vezes escuro, as vezes chuvoso, ensolarado, nevoento mas estações do ano? Meses? Pra que isso? A vida é um grande, imenso, mesmo dia...não temos como voltar no tempo porque simplesmente ele NÃO EXISTE. Ora bolas, entendemos o tempo como se fosse uma linha com uns numerozinhos... e, querendo voltar nele, é só dar uns pulinhos pra trás... não! Não me digam que é isso mesmo. Essa linha não existe. Algum rei maluco o criou, instituiu e até hoje acreditamos e aceitamos. É mais fácil do que bolar algo mais louco e fora dos padrões.
Eu até gosto da idéia da Clarice, mas acho ela meio dura. Gosto também da idéia da continuidade das horas. È mais bonita. Aquela coisa do “olhar pra trás e ver o que eu já passei, sofri, lutei, aprendi, venci (ou não)”. Como se realmente existisse algum caminho onde ficassem expostos todos os nossos momentos, como uma exposição de quadros para que pudéssemos observá-las de longe ao “olharmos pra trás”. É, bem mais romântico.

Bom, já falei bobagem demais por hoje. Fiquei viajando nessa parada e já são 6:30h. Tenho que dormir, pelo menos umas 2 horinhas. Só não esqueçam... já que estarei aqui somente dessa vez...que seja óbvia.

E viva a continuidade dos dias (ou a eternidade do único dia)
hasta.

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